Centro de Documentação do Jornalismo de Imperatriz

Notícias

#Resenha: As dores e as vitórias de Maria da Penha

notícia A cearense Maria da Penha, vítima da violência doméstica, fez história ao lutar pela vida e pressionar pela adoção no país de legislação contra o feminicídio. Michely Alves assina o texto sobre a biografia da farmacêutica.

Por Michely Alves *

O que leva um amor a se transformar em dor, sofrimento e machucados incuráveis? O que leva um homem a cometer atrocidades contra uma mulher? O que leva uma mulher a mudar as vidas de outras mulheres a partir da sua própria história?

Com grande influência no movimento contra a violência doméstica, a cearense Maria da Penha Maia Fernandes relata os piores momentos da sua vida no seu livro autobiográfico Sobrevivi, Posso contar... demostrando força e coragem diante de tudo que enfrentou com seu ex marido, o colombiano Marco Antônio.

No decorrer de 32 capítulos que compõe o livro há uma brevidade cronológica da sua vida, apresentada pela autora. Desde o começo da sua relação com seu ex marido até o momento exato de uma tragédia pré-anunciada. Entre Suaves lembranças e a Criação da Lei Maria da Penha, dois capítulos que estão no posicionamento do início e fim da trágica e desesperadora história de Maria da Penha, há bastante emoção e força de vontade, ajudando a transformar a vida de tantas mulheres que passam ou passaram pela mesma situação, resultando na criação da lei 11.340 na esperança de garantir um futuro sem violência para as mulheres brasileiras.

Tudo começou depois do término de um casamento que durou cinco anos e não foi adiante por conta de decepções amorosas e suas particularidades. Em meio a tanto sofrimento e falsas expectativas, Maria mudou-se para São Paulo, entre os anos de 1973 e 1977, a fim de cursar mestrado na Universidade de São Paulo, a prestigiada USP. Já habituada na região paulista e na sua nova vida acâdemica, conheceu muitos amigos e por meio desses amigos conheceu Marco Antônio, recém-chegado da Colômbia, fazia mestrado de economia na mesma Universidade e se mostrava bastante atencioso perante os amigos. Com o passar do tempo e diante das aproximidades, Maria já estava em um relacionamento com Marco. Um homem que quase não demonstrava destempêro e desassossego para os outros, o famoso sedutor social inato e apto para tal função. “Muitos me parabenizavam por namorar uma pessoa atenciosa, gentil e prendada. Certa vez, a mãe de uma colega chegou a lamentar que Marco não tivesse escolhido a sua filha como namorada” (p.6).

Passadas as primeiras chamadas de afeto e a construção de uma família dentro de uma união oficialmente estável , teria enfim a trágica experiência de conhecer a loucura, ora aparente ora escondida, que o então marido apresentara. Em 1983, o marido tentou matá-la duas vezes, por conta das agressões sofridas, Maria da Penha ficou paraplégica. “Acordei de repente com um forte estampido dentro do quarto. Abri os olhos. Não vi ninguém. Tentei mexer-me, mas não consegui. Imediantamente fechei os olhos, e só um pensamento me ocorreu: Meu Deus, o Marco me matou com um tiro. Fingindo-me de morta, pois temia que Marco me desse um segundo tiro” (p. 21). O processo do caso Maria da Penha estendeu-se durante 19 anos na justiça brasileira, até que após uma denúncia que fez em conjunto com seus advogados contra o Brasil para a Organização dos Estados Americanos (OEA), apontando negligência e omissão em relação à violência doméstica, levando aos gestores públicos uma implementação da lei corretamente, por fim mudando as leis do país. 

Essa é a história de uma cearense que sofreu uma cruel, dolorosa e covarde violência e não se calou levando o caso adiante e foi tão trabalhadora que seu drama real teve forças para gerar a lei que pune agressores no Brasil, indo contra a a cultura machista que permeia nossa sociedade.

Sobre o livro:

PENHA, Maria da. Sobrevivi, Posso contar. São Paulo: Armazém da Cultura, 2010, 240p.

 

Estudante do Curso de Jornalismo, membra do Grupo de Pesquisa Jornalismo, Mídia e Memória – JOIMP

 

 

Tags:

Autore(s): ROSEANE ARCANJO PINHEIRO.