Centro de Documentação do Jornalismo de Imperatriz

Notícias

Um bravo leitor! Uma ousada revista!

notícia O Centro de Documentação do Jornalismo de Imperatriz recebeu a coleção da Revista Caros Amigos, pertencente ao advogado Alfredo Chammas. Vamos conhecer um pouco da trajetória desse leitor e da publicação.

O paulista Alfredo Chammas, falecido no começo de 2018, aos 87 anos, tinha um fascínio pela leitura. De origem síria e nascido em 1930, enveredou pelas letras, área na qual formou. Outro caminho trilhado foi o direito, atividade também abraçada com dedicação. Ler e compreender de forma crítica a realidade foram exercícios que Alfredo costumava fazer.

Um leitor costumaz, que apreciava jornais e revistas, o advogado atravessou a ditadura militar apoiando a luta pelas liberdades política e de expressão. Nesse período turbulento, formou sua família, com a esposa Vera Lúcia e os filhos Danilo e Tatiana. Além dos romances, biografias e o jornalismo, a boa música não faltava. De Machado de Assis a Chico Buarque e Vinícius de Moraes, no lar da família Chammas as referências essenciais para entender o país, com sua imensa diversidade, estavam sempre presentes. Era o final dos anos 70 e começo dos anos 80, momentos da tensa caminhada política rumo à democracia.

É de Alfredo Chammas a coleção da Revista Caros Amigos, que o Centro de Documentação do Jornalismo de Imperatriz, da UFMA – Campus Centro, recebeu através do filho mais velho desse bom leitor, Danilo Chammas, também advogado. Foram dois lotes que somam 71 edições, dos anos de 1999 a 2017. Esse período compreende uma parte significativa da circulação da revista, que foi publicada durante vinte anos.

Lançada em abril de 1997 e com o slogan “a primeira à esquerda”, a revista foi uma das grandes novidades daquele período, com um perfil que ajudou a oxigenar o jornalismo brasileiro, que na época se renovava após uma década de redemocratização política. Para Francisco José Bicudo Pereira Filho, autor do livro “Caros Amigos, o resgate da imprensa alternativa no Brasil” (editora Anablume), a Caros Amigos mostrou-se como uma revista preocupada com o exercício da cidadania, a ética jornalística e o debate público. Trouxe, em sua proposta, a reportagem de fôlego, as entrevistas-testemunho e ângulos e fontes inovadoras frente à imprensa hegemônica e extremamente comercial.

As capas da Caros Amigos traziam uma visão ousada do mundo. Apresentou as entrevistas com Waldir Pires, Lula, Ciro Gomes e Marina Silva, entre outros políticos. Outras capas propunham, por exemplo, análises do contexto brasileiro, uma delas na voz de Marilena Chauí. Há registros importantíssimos, um deles é a conversa com o escritor colombiano Gabriel García Marquéz. E ainda sobre o cenário latino, há uma entrevista marcante com Hebe de Bonafini, liderança das Mães da Praça de Maio, na Argentina, e sua luta pela memória dos desaparecidos políticos daquele país.

 Essa perspectiva de um jornalismo combativo e independente atraiu leitores como Alfredo Chammas, também atento a outras publicações, como a revista Placar, com sua cobertura esportiva desde 1970, e o Jornal da Tarde, do grupo Estadão, que circulou até 2012. O filho, Danilo Chammas, recorda da postura inquieta do pai, que a partir do jornalismo crítico, inspirado pela Caros Amigos e outras experiências, dialogava sempre com filhos e amigos. A intenção era descortinar posições e construir uma percepção mais abrangente sobre uma realidade complexa.

O advogado conta ainda da admiração pelo esforço do pai em ler, mesmo diante das limitações da idade e da saúde. “Até o final da vida, lia muito. Isso me impressionava. Ele teve problemas de visão e dificuldade que poderiam fazer com que simplesmente deixasse. Mas ele fazia questão de ler. Tanto é que a gente manteve, apoiando a questão das assinaturas. Fazia questão e sempre pedia”, relembra Danilo Chammas.

A revista Caros Amigos, que fez parte das leituras diárias do advogado de São Paulo, encerrou a publicação impressa no final de 2017. Com periodicidade mensal, foi lançada pela Editora Casa Amarela e idealizada pelos jornalistas e colaboradores Sérgio de Sousa, Roberto Freire, Jorge Brolio, Francisco Vasconcelos, José Carlos Marão, Alberto Dines, Hélio de Almeida, Frei Betto, João Noro e Matthew Shirts. Teve tiragem de 40 mil exemplares e, no auge da revista, 18 mil assinantes.


 


 

Tags:
  • jornalismo
  • REVISTA
  • Caros amigos

Autore(s): ROSEANE ARCANJO PINHEIRO.